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Gestão, Como 20 horas no caminhão podem salvar sua startup

Nós encaramos uma jornada de 20 horas de caminhão para validar nosso produto e isso foi o que descobrimos…

Eram 3 horas da manhã quando eu e Gabriel nos encontramos na rua perto das nossas casas no centro de Itajubá, Minas Gerais. A ideia era pegar carona até Maria da Fé, uma cidadezinha a 30 minutos de distância onde se encontra nosso incrível parceiro, Laticínio Soberano. O objetivo? Sentir na pele a experiência do usuário com o aplicativo da Laticin.

Já estávamos testando há algumas semanas e tínhamos uma noção das dificuldades encontradas, mas nem de perto estávamos preparados para tudo o que enfrentamos!

 

O ponto é: descobrir os perrengues deles era justamente a missão da nossa viagem! E quer maneira melhor que vivenciar na pele tudo isso? Dito isso, decidimos acompanhar o Wesley, o motorista responsável pela maior e mais difícil linha de coleta de leite do laticínio, na região de Aiuruoca.

Do café das fazendas, parando para tirar as vacas do caminho, até a priorização de funcionalidades, prova de conceito do UX e as heurísticas de usabilidade.

Essa foi uma vivência tão intensa que decidimos compilar e compartilhar algumas descobertas interessantes dessas 20 horas de validação do nosso produto com o objetivo de incentivar você a se jogar nessa experiência.

Vamos lá?

Aqui estão 10 aprendizados que obtivemos nessa viagem!

Olhando no mapa, esse foi o nosso trajeto:

mapa

1. Entenda 100% da jornada do seu usuário

Eu não sou uma pessoa que curte muito acordar de manhã (já o Gabriel é o cara que nem dorme), então você deve imaginar que começar algo às 3 horas da manhã não me atrai muito. Isso porque eu nem imaginava que só voltaria às 23h!

O problema é que essa é a jornada do meu cliente. Nós não tínhamos outra escolha que não entrar nela se quiséssemos entender com profundidade a rotina que eles seguem.

Não se limite a estudar e acompanhar meio de longe uma parte dessa rotina apenas, do contrário você muito provavelmente deixará de ter informações que poderiam agregar valor ao seu produto.

Mesmo com todas as pesquisas qualitativas que fizemos, só vivendo e observando essa jornada é que entendemos de fato o que é uma coleta, uma análise, uma projeção de viagem, uma saída e chegada de caminhão, um descarregamento de leite e todas as preocupações do DIA-A-DIA do nosso cliente.

Mesmo que isso signifique sair da sua própria, certifique-se de entender 100% a rotina do seu usuário, afinal isso pode te ajudar a enxergar os principais diferenciais do seu negócio.

2. Viva o contexto de uso do seu produto

Nós poderíamos ter lançado um formulário online para nossa lista de e-mails de gerentes de laticínios. Poderíamos até ter ligado para uns 10 e perguntado sobre como o processo de coleta de leite funcionava. Mas isso definitivamente não nos daria nem metade dos insights que tivemos durante a viagem.

Idealmente, teste diferentes táticas de validação em diferentes usuários. As formas de lidar com as situações mudam bastante de um cliente a outro e você tem que entender quais dessas táticas valem mais a pena tratar de um ponto de vista de negócios estratégico.

Um exemplo: desenhamos o plano de viagem com base no que ocorre em alguns laticínios que visitamos, mas logo no começo do teste do nosso aplicativo descobrimos que esse parceiro fazia de forma COMPLETAMENTE diferente da que tínhamos implementado. Isso o fez perder cerca de 40 minutos da madrugada de trabalho enquanto o planejamento era executado pela pessoa que não o fazia habitualmente! Esse é o tipo de situação que não teríamos como imaginar sem vivenciar o momento. Foi a primeira frustração do dia.

3. Entenda prioridades (e encontre oportunidades)

Você provavelmente nem imagina quantas ideias dá para se ter quando observamos de perto nossos usuários.

A própria ideia e venda do primeiro MVP da Laticin rolou despretensiosamente em uma viagem de férias acompanhando minha mãe no trabalho. Mas isso deixaremos para um próximo texto.

Você terá uma noção muito maior do impacto do problema que buscou solucionar, de como seu usuário lida com seu produto, quais informações são relevantes em cada momento (e as que você achou que eram e estava equivocado), questões de usabilidade e inclusive possíveis novas funcionalidades. Se você ficar tão imerso quanto nós ficamos, sairá com ideias suficientes para alguns meses de planejamento e desenvolvimento na sua startup!

E falando em encontrar oportunidades…

4. Saiba priorizar as informações e tenha FOCO!

Você com certeza vai encontrar muitos outros problemas além do que se propôs a resolver inicialmente e isso é ótimo, afinal são novas oportunidades e talvez uma delas seja até mais rentável para sua empresa.

Mas tenha em mente que nem todos os problemas farão sentido para o seu produto!

Nosso exemplo pra isso: durante a viagem identificamos que os motoristas dos caminhões de coleta têm dificuldade de enxergar algumas das réguas de medição do volume de leite no tanque por desgaste nas marcações. Na hora fizemos um brainstorming e pensamos em quais informações precisaríamos e que cálculos seriam necessários para resolver isso para eles. É possível? É. Tem prioridade? Não muita.

Também é uma dificuldade ter que descer do caminhão várias vezes para abrir e fechar porteiras e tocar vacas. Sério, se você já passou um dia inteiro subindo e descendo de um caminhão você deve entender o que isso faz com suas pernas! Dito isso, faria sentido pra Laticin tentar resolver isso com o nosso aplicativo? Definitivamente não.

Dica: anote tudo o que você perceber no seu celular ou bloco de notas. Algumas dessas situações conseguimos visualizar se faz ou não sentido muito rápido (tocar as vacas por exemplo). Outras precisarão ser analisadas de forma mais técnica e profunda.

5. Saiba agir conforme o ambiente: não adianta ser sério ou profissional demais as vezes

Consegue imaginar como teria sido se eu e o Gabriel tivéssemos entrado usando roupas sociais naquele caminhão todo adesivado e usado termos técnicos com o Wesley? Provavelmente ele teria nos achado chatos e no dia seguinte feito piada com os engomadinhos da cidade.

Em vez disso, entramos já brincando, cantando todas as músicas, perguntando das coisas que ele gosta e da história dele, ouvimos curiosidades de várias pessoas que passaram por nós na estrada e até aquelas histórias de submundo do que rola nas confraternizações da firma, sabe? E isso fez com que ele se sentisse muito mais a vontade para conversar conosco sem travas, compartilhando dificuldades, frustrações e até as gambiarras que inventavam para lidar com os problemas.

6. Se você passar em 14 fazendas, tome os 14 cafés que te oferecem!

Vai ficar impressionado com as conexões que você pode fazer e o quão dispostas a ajudar as pessoas estão. Seja oferecendo para te conectar com outros potenciais clientes, seja dando feedbacks no seu produto ou até mesmo te dando um pacote de biscoitos para passar o resto da viagem.

Nem sempre estarão te oferecendo cafés, literalmente falando, mas esteja sempre aberto a interagir com outras pessoas e entregar um pouco de si em cada conexão. Foram vários “causos” e muitas risadas pelo caminho.

Dica específica desse caso: coma pouco em cada fazenda para não fazer desfeita na próxima!

7. Usuário não sabe reportar erros (e a responsabilidade é TODA sua)

Seja em laticínios, aviação ou qualquer outra área, é muito provável que você lide a maior parte do tempo com usuários que não sabem reportar erros. E se você é parte do time de desenvolvimento da sua startup, sabe o quanto pode ser frustrante não saber nem qual o problema que precisa ser resolvido.

Esse é mais um motivo para fazer essa viagem com seu usuário. Sentar e reclamar deles não vai te ajudar a vender mais!

Assuma a responsabilidade e vá pra rua entender e testar exaustivamente o que pode estar errado.

Dica: Observe como eles lidam com seu produto ou com o problema em cada momento, pergunte, acompanhe, dialogue e faça suposições para serem testadas.

8. Leve seu programador, ele enxerga algumas coisas melhor que você

O Cristiano e o Gabriel cuidam do desenvolvimento do produto na Laticin. Sem sombra de dúvidas as observações feitas pelo Gabriel e por mim eram em grande parte complementares: enquanto eu reparava mais nos problemas e oportunidades, ele pensava na viabilidade técnica e analisava a usabilidade.

Além disso, um programador em campo consegue identificar muito mais assertivamente as origens técnicas de um bug que ocorreu durante a prática.

Então se você tiver chance, leve seu programador para tomar um sol com você!

9. Respeito pelo usuário + empatia em mão dupla

Quando você entende as coisas com as quais seu usuário precisa lidar todos os dias, fica bem mais fácil estabelecer essa relação de respeito que consideramos essencial para qualquer negócio.

E acredite, você muito provavelmente estabelecerá essa empatia em mão dupla. Enquanto você respeita mais seu usuário por entender sua rotina, ele te respeitará mais por ver o seu interesse e dedicação em tentar resolver os problemas dele. E isso é lindo para qualquer startup!

10. NADA, nada mesmo, substitui essa experiência

Um caminhão anda absurdamente devagar depois de coletar mais de 10 mil litros de leite. Isso em uma estrada de terra, cheia de buracos, um pouco de lama e subidas/descidas é elevado potencialmente. Por isso comemoramos como um gol da copa do mundo quando coletamos o último tanque.

E você deve imaginar que após dormir cerca de uma hora e meia, sair de viagem às 3h, passar o dia com sol rachando, cantando modão e chacoalhando em cima de um caminhão, nós ficamos exaustos.

Aproveitando, não podemos deixar de agradecer ao pessoal do Laticínio Soberano, um excelente parceiro super disposto a rodar nossos testes e sempre de olho nas novas tecnologias que podem aprimorar os processos da empresa, nossos avanços rápidos são em grande parte graças à colaboração de todos os funcionários de lá.

Chegar em casa com a sensação de dever cumprido ainda é uma das melhores coisas que existe, mesmo quando você mal tem energia pra terminar de chegar!

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