Sou do tempo em que tudo era mato e era muito raro você encontrar alguém que conhecia o termo startup. Hoje em dia é diferente, as pessoas já conhecem o que é uma startup e têm uma definição, mesmo que rudimentar. A mais comum contempla três palavras: tecnologia, inovação e escala. É muito bacana observar essa associação entre startups e escala e que já se popularizou. É só escutar o pitch de um jovem empreendedor, ele tem na ponta da língua que seu negócio será escalável. Sim, startups precisam escalar, mas existem algumas pegadinhas ingratas nessa associação e que criaram mitos entre os empreendedores.
Mito #1 - Mais software = Mais clientes
Muitos fundadores, após desenharem suas hipóteses, abaixam a cabeça, tomam um café e saem programando como loucos. Acreditam que existe uma correlação direta entre ter um software cheio de funcionalidades com o crescimento do negócio. É como se cada linha programada magicamente trouxesse um novo cliente. Isso também acontece com fundadores que não programam, contratando terceiros para desenvolver o software. Após meses de esforço, a realidade se apresenta: não há nenhum cliente e não há nenhum pagante. Você tem um ótimo software em mãos que ninguém quer usar.
Mito #2 - Em busca da sacada secreta
Quando os fundadores percebem que é preciso se conectar com o mercado além de programar, eles partem para um segundo mito tão perigoso quanto o primeiro. O mito de que há um jeito fácil e rápido de crescer seu negócio com atalhos e que, com pouco esforço, o produto magicamente vai crescer. É como se o fundador encontrasse um mestre que tem o segredo do sucesso e que ele apresentará uma sacada iluminada pra você crescer.
Mito #3 - Se eu mostrar, eles comprarão
Outra crença comum é de que um grande lançamento vai trazer milhares de clientes. É como se bastasse fazer uma espécie de um baile de debutantes, um evento onde o fundador sobe no palco e apresenta a solução para o mundo. É a crença de que, uma vez que as pessoas conheçam a solução, elas vão virar clientes.
EU JÁ NASCI GRANDE E NÃO PRECISO DE NINGUÉM.
Percebam que existe um padrão: os fundadores acreditam que já nasceram grandes e que é uma questão de executar ou debutar a solução. Pensam: "Nós vamos trabalhar aqui quietinhos e trazer algo genial e bombástico pro mundo, esperem e verão algo escalável." Os founders escolhem se desconectar da realidade e é essa escolha que mata a maioria das startups.
CONEXÃO COM A REALIDADE E O QUE PERMITE A ESCALA
O que vai permitir que você tenha um negócio grande não é quantidade de linhas de código escritas, mas a quantidade de iterações que você consegue realizar com a realidade. É a sua capacidade de entender a DOR de um cliente, de entender se existem mais pessoas que compartilham essa DOR e descobrir se de fato há um grande mercado para trabalhar.
Não é a sacada encontrada em um baú pirata, é um processo. É o trabalho contínuo de aprender com seus clientes o que funciona ou não. A capacidade de responder suas dúvidas com dados reais, parando de achar e passar a testar e aprender com seus clientes. Não é subir no palco e apresentar uma solução mágica pro mundo, é sentar com seus clientes, escutá-los e, a partir daí, propor a resolução do problema.
A sua sala não é uma incubadora que vai transformar uma ideia em um negócio escalável. O que vai possibilitar que isso ocorra é você sair dela o mais rápido possível e chocar suas estratégias com o mundo real.